Tudo que eu queria que tivessem me dito antes de ser pai

Uma carta aberta aos pais de primeira viagem

Alexandre Aimbiré
3 min readFeb 8, 2021
Foto de freestocks.org no Pexels

Primo amado,

Faltam poucos dias para que o bebê que a sua esposa carrega venha e eu estou muito feliz por vocês dois. Eu sei que vocês estão até o pescoço de conselhos, mas vou deixar alguns aqui. Os que eu gostaria que tivessem me dado antes da minha filha nascer e alguns poucos que eu vi que faziam sentido. Não quero de forma alguma lhes atormentar ou ser condescendente com vocês. Nada de querer impor a minha experiência individual como pai de primeira viagem em vocês. Dei os mesmos conselhos à minha irmã quando ela me disse que estava grávida.

Primeiro, e mais importante: Durmam. Durmam bastante. Descansem tudo que vocês puderem. Não importa o quão descansados vocês estejam na hora, a coisa vai apertar, mas sempre ajuda se vocês dormirem. Além do mais, talvez essa seja a última oportunidade de vocês dormirem oito horas completas. Alguns bebês são tranquilos e dormem a noite toda. Outros acordam pontualmente a cada três horas. Nunca se sabe. Se vocês forem mais ansiosos, como eu sou, talvez acordem sozinhos no meio da noite ao menor barulho vindo do berço. Ou pior, na falta de qualquer barulho.

Descansem. Aproveitem. Se curtam bastante.

Segundo, não escutem gente velha. Se depender de gente velha, a criança vai acabar enrolada num edredom num calor de 38ºC pra “não pegar uma friagem”, ou sabe se lá o quê. Gente velha vai tentar assustar vocês com contos de horror sobre como o filho deles engoliu uma moeda ou enfiou um clipe de papel na tomada e quase morreu. Vão lhes dizer coisas como vocês nunca mais terão paz, que a criança vai destruir a casa como um mini Godzilla quando aprender a andar, ou vai atormentar os seus cães como atormentou o gato da vizinha. Gente velha vai tentar convencer vocês que vocês podem dar salsicha e Coca-Cola pra criança porque a delas comeu isso e não morreu, ou que a vida sexual de vocês vai deixar de existir. Respirem, fiquem calmos e confiem no pediatra. Não escutem a tia maluca que acha normal botar cachaça na mamadeira pra criança dormir mais rápido.

Na verdade, não escutem ninguém. Adulto fala muita merda o tempo todo.

Terceiro, é a criança que está entrando na vida de vocês, e não o contrário. Um pouco de adaptação de rotina é necessária, mas no final das contas, é importante que vocês continuem vivendo a vida de vocês e não parem, ou pausem, ela. Se vocês são ativos, continuem ativos e a criança irá seguir os passos de vocês. Elas são mais fortes e resilientes que parecem. Claro, não estou falando pra levar a criança na balada, mas sair às vezes e ir à um restaurante com ela no moisés não tem problema nenhum.

Para os dias em que vocês quiserem ir na balada, sempre há os tios, avós e babás para cuidar deles por algumas horas.

No mais, não se preocupem. Vai dar tudo certo. Tudo vai mudar e vai ser uma experiência que os três vão passar juntos e vão aprender juntos. Aproveitem cada dia e cada experiência. Elas não voltam. Apesar das fraldas intermináveis, das noites mal dormidas e dos dias em que a gente acha que vai morrer de exaustão, eu tenho saudades de tudo. Do primeiro sorriso, do primeiro dente, de saber diferenciar cada tipo de choro diferente.

De vê-la crescer.

Vocês vão ser um pais incríveis e essa criança vai ser muito amada, não tenho dúvida, privilegiada por nascer em uma família amorosa, num lar acolhedor e com avós babões que vão fazer tudo que puderem por essa criança.

Ah, é. Tenham paciência com os pais de vocês. Eles só querem participar às vezes. E às vezes compensar alguma coisa que acham que erraram com vocês, mas é melhor deixar esse papo pro analista.

E, se precisar, estou aqui. Sempre estarei.

Amo vocês,

Alexandre

PS: É menino. Não me pergunte, mas eu sei.

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Alexandre Aimbiré

Sociólogo de boteco, estudante de Letras, guitarrista ocasional, pai, marido e leitor ávido de caixas de sucrilhos. Leio e escrevo sobre o que me dá na telha.