Dois Anos Depois: O Declínio e Queda da Minha Sanidade Mental

Vocês não sentem vergonha em serem brasileiros? Nem um tantinho?

Alexandre Aimbiré
6 min readNov 24, 2020
Foto de Jade Scarlato no Unsplash

Cada palavra que eu escrevo e deixo registrada é uma mensagem para o futuro, mas será que é possível se comunicar com o passado? Será que eu posso me mandar uma mensagem? Contar algo pro Alexandre do passado? O que eu escreveria nela? O conhecimento de eventos futuros pode mudar o presente ou o que aconteceu, aconteceu? Será que eu consigo dirigir um carro ao contrário?

Desculpa, gente. Assisti Tenet e ainda estou impactado. Vamos voltar à mensagem para o Fantasma do Alexandre Passado.

Sério, assistam Tenet.

Bicho, lembra de dois anos atrás, quando você estava fazendo campanha igual um idiota? Uma campanha baseada em amor, flores e cafezinho na rua, ignorando que o Brasil estava prestes a eleger o ser humano mais idiota que já pisou neste país medíocre? Uma pústula humana que mal sabe balbuciar as palavras? Um fiapo de umbigo nojento que te faz sentir vergonha só por ter a mesma nacionalidade dele? Lembra de você achando que dava pra convencer uma massa de idiotas que não era uma boa ideia votar num sujeito que deve ter uma piroquinha murcha e fina e uma masculinidade tão frágil que acha que vai se tornar homoafetivo porque ousou dar um mísero gole de um refrigerante cor-de-rosa?

Pois então, você tava errado. Puta que o pariu, Alexandre, você estava muito errado. Cacete, bicho. Você precisa tirar a cabeça do cu, e rápido. Os próximos dois anos vão ser infernais e é bom você começar a se preparar imediatamente. Aquele cocozão humano que meteram a faca não morreu, tá andando por aí e ainda virou presidente. Pois é, coisa ruim não morre assim fácil. Sim, o Haddad vai perder a eleição. Não, você vai votar nele do mesmo jeito porque eu não vou conseguir viver com a vergonha de ter me ausentado desse pleito. Não há nada que você possa fazer pra reverter isso e ele ainda vai levar junto com ele um batalhão inteiro de imbecis tão ruins quanto ele.

Sim, o refrigerante cor de rosa é horroroso. Você vai beber de novo e vai ser péssimo, mas não vai sair beijando rapazes por aí por causa disso.

Dá pra sentir o gosto só de olhar a foto, né?

Eu falo pra você se preparar porque eu não me preparei e já não tenho mais forças pra sentir ódio. Sim, tá foda nesse estado. Todos os dias eu penso em mandar meu passaporte de volta pro Itamaraty acompanhado de carta renunciando minha cidadania brasileira e mandando o Ernesto Araújo enfiar ele no rabo do Olavo de Carvalho. Aí eu lembro que preciso dele pra poder fugir desta pocilga e volto a ficar resignado na minha cadeira, odiando o fato de ter nascido brasileiro.

Ah, é. Você não sabe quem é o Ernesto Araújo. Eu tenho muita inveja de você. Ignorância realmente é uma bênção.

O governo, se é que dá pra chamar assim, deste furúnculo está sendo pior do que você imaginava possível. Algumas das suas previsões (ainda) não se concretizaram, mas tá tudo horrível. Não, nem ele nem ninguém ali é inteligente o suficiente pra conceber e executar um plano, ao contrário do que muita gente acredita, mas eles são perversos o suficiente pra fazer um estrago tremendo.

Mas o que me deixa puto dos cornos é que nada, absolutamente nada parece afetar ele ou os ministros dele. Nada. Não importa o que ele faça ou não faça, fale ou não fale, ele continua com um índice de aprovação razoável. Parece que as pessoas gostam disso. Neste meio tempo ele já minimizou uma pandemia várias vezes, fez piadas de cunho sexual com uma garotinha, protagonizou a live mais constrangedora de todos os tempos, demitiu seu ministro estrela, roubou um cachorro, colocou a nossa diplomacia ao lado dos países mais retrógrados do mundo, disse que ama um tapué manchado de bolonhesa, fez piadas racistas, machistas e homofóbicas, tuitou sobre golden shower, comemorou a morte de uma pessoa, e ameaçou diversas vezes dar um coup d’etat.

Eu queria estar inventando qualquer uma dessas histórias, mas não estou. Nem o golden shower. Nem o cachorro roubado. Sim, esse filho da puta roubou o cachorro de estimação de alguém. É, eu sei. É ridículo. Eu sabia que eleger o político mais chinelão de todos os tempos ia ser péssimo, mas nunca achei que ia ser tudo isso. E, olha, eu nem vou falar nos filhos vigaristas dele pra não me alongar demais.

No campo da esquerda (ahem) a coisa não melhora muito. É absurdo termos uma aberração tão grande quanto esta usando a faixa presidencial e ter uma oposição tão medíocre. Políticos de esquerda (ahem) com posições tão irrelevantes, tão pequenas. Parecem mais ocupados em lacrar e vitalizar nas suas redes sociais para ganhar seguidores ou fazer média pro Gregório Duvivier. É ridículo. Enquanto a direita vocifera, a eles repetem o mesmo tuíte incontáveis e acha que isso é uma posição política. Se for, não é muito diferente das milhares de notas de repúdio que o Presidente da Câmara dos Deputados solta toda vez que o presidente faz alguma baixaria. As pessoas falam sobre queimar carros, mas mal e mal quebram uma vidraça e depois passam mais tempo falando sobre a indigação pela vidraça que o fato que levou a vidraça ser quebrada.

Nenhum carro foi incendiado na produção desta manifestação.

Eu não queria escrever este texto. Prometi a mim mesmo que não ia mais falar sobre política. Eu sei, é uma das coisas que você mais gosta. Sim, você dedicou uma vida a isso, mas não existe mais democracia como você conhece. Tudo mudou muito nestes dois últimos anos. Falar de política hoje é uma grande dor de cabeça. Você vai perder vontade de ler jornais e toda vez que falarem sobre isso no Twitter ou na mesa do bar, você vai ficar tão puto que não vai conseguir nem pensar direito e vai levantar pra fumar uns três cigarros de uma vez. Apesar disso você vai continuar lendo, se informando e se indignando porque é o que te move. E talvez por um pouquinho de masoquismo também. Eu não vou conseguir parar de falar sobt política, nem você vai. Se prepara, porque ainda tem mais dois anos desta patifaria, pelo andar da carruagem, esse corno vai se reeleger.

Pois é, nada que você estudou podia te preparar pra isso, ? Mas você pode encontrar consolo em uma coisa: Você não votou num palerma que fala “qüestão”.

Ah, é. Você vai passar boa parte de um ano trancafiado em casa por conta de uma pandemia de um vírus aéreo que ainda não tem cura ou vacina. Então curta janeiro e fevereiro como se não houvesse amanhã. E pode voltar pra casa de Uber depois do aniversário do Lopes. Não precisa se preocupar em pegar o metrô antes da estação fechar.

Confie em mim.

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Alexandre Aimbiré

Sociólogo de boteco, estudante de Letras, guitarrista ocasional, pai, marido e leitor ávido de caixas de sucrilhos. Leio e escrevo sobre o que me dá na telha.